Extração e armazenamento de leite
A sugestão de uma CAM, a mesma que me apoia a escrever os artigos sobre amamentação em que entro em aspectos mais técnicos, partilho aqui a minha experiência com extracção e armazenamento de leite. Antes de ir para a maternidade, não tinha sequer comprado uma bomba de extracção. Estava convencida de que não iria precisar. No entanto, com um filho prematuro, internado nos cuidados intermédios de neonatologia, que nasceu de cesariana… das duas uma, ou extraia ou lá se ia a amamentação para o caneco. Portanto, extraí. De três em três horas, lá fazia eu a minha melhor imitação de vaca leiteira, amarrada a uma máquina que me sugava o mamilo sem dó nem piedade (é fascinante ver o quanto o nosso mamilo consegue crescer para a frente).
Da primeira vez, 6 horas depois de ter parido, apareceu-me uma enfermeira com uma máquina eléctrica e explicou muito por alto o que deveria fazer. Senti-me perdida. Ainda mais porque das primeiras vezes não saía mesmo nada. É preciso ir buscar muita força para persistir. Uma vez, ainda internada, estava eu a extrair com o Mr. B ao meu lado a fazer-me rir perdida… foi um bom dia, esse. Entretanto, um bebé ao lado chorou e aí vi o efeito real da oxitocina pela primeira vez – o leite começou a escorrer pelo frasquinho de vidro abaixo. Talvez tenha dito ao Mr. B para pôr o bebé a chorar novamente, só para extrair mais leite. Na brincadeira, claro.
Quando tive alta e fui para casa, ainda sem o Baby S, continuei a usar a Medela, mas na versão caseira, a Swing. Acho que ainda hoje tenho pesadelos com o som da máquina…. Aquele vibrar… Digamos que agora, quando tenho de extrair, é à mão. Na altura, continuei a extrair de 3 em 3 horas. Acho que não houve canto da casa em que não o fizesse, o Tug a olhar para mim perplexo. Foi na cama, em que ia adormecendo umas quantas vezes. Foi na sala, numa cadeira, a beber chá e ouvir música relaxante. Foi no sofá da sala, a ver televisão. Foi no quarto do Baby S quando finalmente tive coragem de lá entrar. E foi também em diversos outros sítios na rua, incluindo no armazém da Totikids do Campo Pequeno, num dia em que o Mr B. comprou bilhetes para o roast do Toy. Tivemos de sair mais cedo, claro. As mamas não aguentaram.
Mas e então, o armazenamento, perguntam vocês? Na maternidade não tinha de me preocupar. Forneciam os frascos de vidro em que se colocava o leite, colava uma etiqueta (fornecida pela maternidade, com o nome do bebé e da mãe), onde indicava a data e hora de início da extracção, refrigerava e no dia seguinte lá levava comigo para a maternidade, que eles tratavam do resto. Em casa? Não há muitos frascos de vidro – não há espaço na geleira! Contrariada, tive de optar pelos sacos de congelamento da Medela. No entanto, só extraí em casa um dia… ele passou logo a amamentar em exclusivo.
Ao contrário da minha experiência, em que realmente não tive escolha, a quem tem o seu bebé por perto aconselho amamentação em livre demanda (ler post aqui), pois não é interessante começar a extrair nos primeiros 2-3 meses, em que estamos a estabelecer a produção adaptada às necessidades do nosso bebé. E por volta dos 3 meses, surge um pico de crescimento que pode ser bastante desafiante, levando muitas mães a questionar a qualidade do seu leite e desistir. Fica a dica: aguentem firmes! O vosso corpo adapta-se ao que o bebé precisa. E não existe leite fraco.
Da amamentação em livre demanda (e que ainda pratico quando estou como o Baby S), voltei a extrair apenas umas semanas antes de regressar ao trabalho, caso fosse preciso para uma emergência. Nessa altura, deparei-me com um facto curioso. O meu corpo estava de tal forma sincronizado com as necessidades do meu bebé, que produzia apenas o leite necessário. Quando ao extrair (manualmente) consegui apenas 10ml, ia tendo um ataque cardíaco. Até que percebi que isso era uma boa notícia – o meu corpo e o do meu bebé estavam totalmente alinhados. Ora, não ia gastar um saco com 10ml, pelo que juntava várias extracções e só aí congelava (em sacos que iam dos 50 aos 100 ml).
Deixo aqui as indicações da ABM (Academia de Medicina para a Amamentação) para armazenamento de leite, indicações essas que sempre segui. Para acesso ao protocolo em si, seguir link abaixo:
https://abm.memberclicks.net/assets/DOCUMENTS/PROTOCOLS/8-human-milk-storage-protocol-english.pdf
NB Em Portugal, as indicações que recebi tinham prazos mais curtos!
Leite a temperatura ambiente: idealmente, 4 horas, mas pode ser preservado durante 6 a 8 horas em condições de higiene (tapar sempre os boiões e usar apenas boiões esterilizados)
Leite no frigorífico: 1 a 4 dias, mas pode ser de 5 a 8 dias, em condições de higiene. NB O leite deve ser colocado na parte mais fria, ou seja, no fundo da prateleira de baixo. Não colocar na porta, pois esta zona sofre grandes variações de temperatura à medida que a abrimos e fechamos.
Leite no congelador num combinado (frigorífico e congelador): até 3 meses
Leite num congelador industrial: idealmente até 6 meses, mas pode ir até aos 12 meses.
O leite nunca deve ser misturado a temperaturas diferentes. Portanto, o que fazia era extrair (à la pata) para os potes da Avent, colocava no frigorífico e só congelava quando o leite estava todo à mesma temperatura. O ideal é mesmo congelar assim que se extrai, mas lá está, para congelar entre 10 a 20 ml não vale a pena estar a desperdiçar sacos.
Para descongelar: o ideal é descongelar à temperatura ambiente. No entanto, para acelerar o processo, por vezes colocava os sacos em banho-maria, sem que pusesses a água a ferver, apenas mergulhava o boião ou saco na água e esperava. Uma torneira com água quente também serve! Usei muitas vezes o leite que tinha de reserva para as papas ou sopas do Baby S na altura da introdução alimentar, não só para melhorar a textura, como para lhes conferir um sabor que lhe era familiar. NB nunca ferver o leite ou aquecer acima dos 40ºC, pois perde as suas propriedades.
Hoje em dia já só extraio esporadicamente quando estou mais horas longe dele ou sei que ele vai querer aquele biberão de manhã, porque o deixei na minha sogra mais cedo. Já agora, tenho dois biberões da Philips Avent em vidro. E são dois para poder ter um em cada casa. Se não, um bastaria. Quando se amamenta em exclusivo, é menos uma despesa!
Por vezes penso na quantidade de horas que passei amarrada a uma máquina a fazer de vaquinha. Há que aligeirar, levar a coisa para a brincadeira ajuda a relaxar. O meu marido ainda tentou encontrar um pijama de vaca, daqueles onesies que se vendem na Primark, sabem? Mas só encontrou a Lady da Dama e o Vagabundo. Enfim… mãe sofre. De qualquer forma, valeu todos os segundos, pois foi o que me permitiu amamentar o meu filho e foi também o que me deu mais paz de espírito quando regressei ao trabalho. Muuuuuuuuu