Os mitos principais associados às fraldas reutilizáveis
Existem muitos mitos associados à utilização de fraldas reutilizáveis… É uma prática que não está ainda mainstream, implementada apenas por um nicho de pais, e assim sendo há falta de informação e, a que há, não está esquematizada e por vezes é francamente contraditória. Sou a eterna otimista, que considera que as fraldas reutilizáveis (FR) passarão por se tornar prática corrente – o planeta assim o pede! Como tal, optei por colocar aqui os mitos mais comuns associados à utilização das fraldas reutilizáveis, fraldas ecológicas, fraldas de pano… aquilo que optarem por lhes chamar. São os mitos que eu ouço com mais frequência ao referir que o Baby S usa este tipo de fraldas. E, tal como apresento respostas a quem me pergunta pessoalmente, elencarei aqui as questões, assim como a desmistificação das mesmas.
1. O quê? E tens de lavar as fraldas? Isso deve dar imenso trabalho!
Ouço frequentemente esta afirmação. É evidente que, sendo fraldas reutilizáveis, terão de ser lavadas. Se dá mais trabalho? Sim, dá. Se dá muito mais trabalho? Não, de forma alguma. Na hora da muda, ao invés de deitar as fraldas fora, separe os absorventes (ou não, dependendo do tipo de sistema usado) e coloque tudo num saco, pronto para enfiar dentro da máquina na altura de se lavar. E pronto! Não estamos a falar em pegar nas fraldas, levá-las até um tanque comunitário e esfregar à mão. Esses dias já passaram e hoje temos excelentes máquinas de lavar roupa (há quem prefira realmente lavar à mão, se for este o seu caso, excelente!). Basta colocar na máquina de lavar com os sacos abertos (também se lavam com as fraldas) e iniciar os ciclos de lavagem. Já temos de lavar roupa normalmente e trata-se apenas de estabelecer uma nova rotina, que muito rapidamente se incorpora. Colocar no saco – colocar na máquina – lavar – secar – montar. Eu, por exemplo, adoro montar as fraldas, colocando-as todas prontas para guardar na gaveta. Adoro dispô-las, como se de uma montra se tratasse. É um momento zen para mim. É uma rotina que se adapta a nós e não nós que nos adaptamos a ela. E dá perfeitamente para juntar outra roupa às máquinas de fraldas.
2. O que fazes com o cocó? Mexes em cocó?
Esta afirmação está frequentemente associada ao primeiro mito, o da lavagem. Julgo que quem não usa fraldas reutilizáveis acha que quem usa passa a vida a mexer em cocó, com caca até aos cotovelos, sei lá! Não é verdade. Convenhamos, desde que temos um bebé, o cocó passa a ser um tema frequente: já fez? Quantas vezes fez? É mole? É duro? E o “mexer” no cocó aplica-se tanto a quem usa fraldas descartáveis como a quem usa fraldas reutilizáveis. Para um bebé que esteja a ser amamentado em exclusivo, não se faz absolutamente nada com o cocó. Sim, leram bem. Nada. Na hora da muda, pega-se na fralda e coloca-se no saco à espera para ser lavada. A máquina tratará do resto (falaremos sobre a rotina de lavagem noutro artigo). Isto porque o cocó destes bebés é hidrossolúvel e portanto ficará dissolvido automaticamente. Para um bebé que beba suplemento, existe sempre a opção de se colocar o que se chama de liner biodegradável, uma película muito fina, em celulose de bambu, cuja função é reter o cocó e deixar passar o líquido. Se o liner ficar sujo, basta colocar na sanita e o resto da fralda vai para lavar. Também podem optar por liners reutilizáveis – lavam-se com as fraldas. Há quem opte por passar por água; se o fizer, esprema bem o excesso de água antes de colocar no balde. É um passo desnecessário, mas cada qual deve fazer como se sente melhor.
E quando comer sólidos? A resposta é a mesma! Pode usar um liner, este pode ser biodegradável ou reutilizável, os primeiros deitam-se na sanita e os segundos vão para lavar com as fraldas. E há quem escolha não usar nada, apenas deitar o cocó na sanita e colocar a fralda para lavar. Cá está, as fraldas adaptam-se a nós e não nós a elas! Não se mexe mais em cocó só porque estamos a utilizar fraldas reutilizáveis. Aliás, aqueles cocós explosivos que tão bem conhecemos não acontecem com as FR, pois têm elásticos que os contêm na fralda. Algumas vêm até com elásticos duplos (que coisa maravilhosa, os tais double gussets.) Os elásticos nas costas previnem aquelas situações em que o cocó chegaria ao pescoço.
3. São muito caras
As fraldas reutilizáveis, tal como o nome indica, servem para ser usadas várias vezes e não podemos pensar que custam o mesmo que uma fralda descartável. No entanto, a longo prazo, saem bem mais baratas do que a opção das descartáveis, conforme a tabela abaixo:
Este valores foram calculados tendo em conta a média de fraldas utilizadas por um bebé desde o momento que nasce até ao desfralde. Os bebés utilizam em média fraldas até aos dois anos e meio, cerca de 60 fraldas por semana. No início gasta-se mais, mas à medida que vão crescendo, gasta-se menos, pelo que este valor será sempre uma média. Ora, 60 fraldas x 52 semanas x 2,5 anos=7.800 fraldas por bebé. O custo médio de fralda a €0,30 foi calculado pegando no valor unitário das fraldas Dodot Sensitive, comprado em pack, e as fraldas marca branca Continente, em pack também. Somou-se os dois valores e dividiu-se ao meio. Não tem em conta valores promocionais, mas mesmo tendo em conta, a diferença é tão astronómica que não alteraria muito os valores finais. Portanto, não são mais caras, não. Implicam um investimento inicial maior, certo, mas esse investimento será largamente compensado. E não é preciso comprar tudo de uma vez, podemos ir introduzindo as FR aos poucos.
4. São complicadas de usar
Ao falarmos em fraldas de pano, pode haver uma tendência a associar-se às musselinas de antigamente, presas com um alfinete de dama e impermeabilizadas com umas cuecas de plástico, rijas como tudo. As fraldas modernas são totalmente diferentes! Existem ainda estas musselinas e há pais que optam por este sistema, por ser mais em conta e mais natural, mas há ainda um leque enorme de sistemas, fáceis de usar, tais como as fraldas de bolso, as fraldas tudo-em-um, as fraldas tudo-em-dois ou híbridas, as fraldas ajustadas mais capa de lã ou capa em PUL, enfim, há muito por onde escolher. Vamos então dar o exemplo das fraldas de bolso: para usar, coloca-se os absorventes dentro do bolso e coloca-se no bebé. Na altura da muda, retira-se a fralda, retiram-se os absorventes do bolso e coloca-se tudo para lavar. Simples, não vos parece?
5. Tenho de optar por um sistema ou outro, não há margem de manobra.
Existe sempre a possibilidade de se introduzir as FR aos poucos… Não sou apologista de fundamentalismos, desta ideia de ser tudo ou nada. Se a situação não o permitir, então pode perfeitamente usar fraldas descartáveis e fraldas reutilizáveis também. Até porque cada fralda descartável que não deitar fora já ajuda, e bastante. Pode usar as descartáveis até já se sentir à vontade para usar apenas as reutilizáveis, ou até ter o seu stock completo (eu andava em pulgas até ter o stock completo e na altura tive de usar descartáveis por vezes). Também pode optar por não usar as FR na fase de recém-nascido, uma altura que já implica muitas rotinas novas (ou falta delas) e mais uma coisa nova pode não ser o pretendido. E está sempre tudo bem!
6. Isso é apenas para hippies/ambientalistas ferranhos/seres verdes com antenas … (coloque aqui o adjectivo que lhe convém)
Adoro esta. Adoro a cara que por vezes me fazem quando digo que uso FR. Porque não tenho “ar” de hippie, de ambientalista, etc., (se é que há um “ar”, o que implica julgamento, mas enfim). Muito pelo contrário. Quem me conhece, sabe que tenho um ar perfeitamente banal e então na cabeça de algumas pessoas, eu deveria ter outro aspeto (sim, isto parte de algum preconceito e julgamento, mas tal existe). O facto de me preocupar com o ambiente não faz de mim uma extremista ambientalista e talvez estejamos na altura de mudar a mentalidade que prevalece na nossa sociedade. Reciclo, uso sacos de algodão para trazer a fruta do supermercado, tenho uma escova de dentes de bambu, vou para o trabalho de bicicleta ou carro elétrico. Mas também uso malas de cabedal, sapatos de cabedal, (se bem que tendencialmente menos… não compro mais, mas também não vou deitar fora o que já tenho), ando de avião e outras coisas que não enquadrariam então na imagem que se poderia criar. E vivo bem com as minhas escolhas! Em Inglês há uma expressão muito caricata – “crunchy mum”. E que apenas este tipo de mãe utilizaria FR.
7. Há muitas fugas
Esta frase remete-me sempre para a pergunta: “e com fraldas descartáveis, nunca tiveste/tens fugas?” “Ah, sim, já”. Então? Porquê os dois pesos ou duas medidas, só porque é algo ainda maioritariamente desconhecido? Além de que, para desmistificar, não há mais fugas com as reutilizáveis, muito pelo contrário. Se já tive fugas? Sim, de xixi. Ou porque as fraldas foram mal colocadas (falta de experiência), ou porque deixei tempo a mais e o absorvente não era o suficiente, porque o meu bebé começou a comer e a fazer mais xixi… Contam-se ainda pelos dedos de uma mão as fugas que tive com FR. Já com as descartáveis, quando as usava… não vamos por aí. Aquelas fugas explosivas de cocó que vão dos calcanhares ao pescoço e temos de andar com 3 mudas de roupa na mala? Isso nunca aconteceu com as FR. É verdade, nunca! Por causa dos tais elásticos nas costas e os elásticos duplos em algumas fraldas. Cheguei a ter uma muda de roupa duas semanas inteiras na mala (até que deixou de servir lol) porque não precisei de mudar o Baby S.
Espero que esta desmitificação vos ajude na altura de optarem por fraldas reutilizáveis ou fraldas descartáveis. Cada família é única, cada bebé é único, e temos o direito de fazer as escolhas que mais se adequam. Para tal, precisamos de informação e não de mitos ou preconceitos. Há mais alguma dúvida que tenham, com a qual vos possa ajudar?