Os desafios da amamentação Parte 2

Amamentar um prematuro

No dia seguinte ao Baby S ter nascido, logo de manhãzinha, o Mr. B veio ter comigo e quase que me levou ao colo até onde estava o nosso bebé. Estava ainda na incubadora, por precaução (ele nasceu com bom peso e saúde) e eu pude pegar nele pela primeira vez. A sensação de felicidade que senti na altura é indescritível. Aquele cheirinho… aquele calor. Vieram-me as lágrimas aos olhos (hão de reparar que isto foi uma constante durante este período, mas adiante). Pu-lo à mama e ele, como ser inteligente que é, abocanhou o mamilo e começou a chuchar. Nesta altura, eu ainda não tinha leite, mas mesmo que tivesse, um prematuro cansa-se muito facilmente e portanto, deu 4 chupadelas e parou. Mas chupou, caramba! E isso foi o suficiente para mim, na altura. Lá está, um passo de cada vez. Juntos, iriamos conseguir, tinha a certeza disso e quando as dúvidas surgiam – e surgiram muitas vezes – mandava-as embora e pensava no meu bebé. Confiei nele. Confiei em nós.

Enquanto estive internada, era mais fácil – extraía no quarto e levava ao bebé. Estava com ele quando queria, o Mr. B também. Aproveito para dizer que quando uma mãe amamenta, na verdade, é a família inteira que amamenta e o apoio que se tem em casa é fundamental. Na primeira vez que fui ao grupo de apoio à amamentação no centro pré e pós parto, orientado pela enfermeira Maria Fernandez, havia um casal. Seria interessante haver mais, pois na verdade, nunca amamentamos sozinhas e, tal como referi, o apoio é fundamental. Friso que não teria alcançado o que alcancei sem apoio.O desafio principal foi quando tive alta. Chegar a casa sem o nosso bebé é algo que não desejo ao meu pior inimigo. Aquele primeiro impacto é visceral. Recordo-me de estar no meio do quarto do Baby S a chorar de uma forma desalmada, como nunca tinha chorado na vida, agarrada ao Mr. B, que fazia os possíveis para me acalmar. E teria de me acalmar mesmo, pois a extracção do leite teria de continuar – de 3 em 3 horas, 15 minutos em cada mama. Foi por volta desta altura, talvez no dia seguinte, que se deu a subida do leite. De repente, extraía 70 ml de cada vez, para um bebé que nem 30 bebia. As mamas estavam duras, engorgitadas, ainda mais pois o processo de extracção não é natural, como o é tendo um bebé a mamar aquilo que realmente quer. Eu produzia o que o meu corpo achava que tinha de produzir, sem qualquer orientação. As enfermeiras na maternidade, as CAM, ajudaram-me imenso. Massagens, apoio, dicas, foram incansáveis. Tentava reproduzir o que me ensinavam, mas lá está, sozinha sentia-me de repente perdida. Banhos, massagens, extracção e frio… muito frio. Tinha as mamas inflamadas e portanto, teria de reduzir a inflamação. Fiz uma primeira mastite, na mama direita. Na verdade, olhando para trás, era apenas um ducto entupido, pois não tive febre nem me senti mal. Mas receitaram o antibiótico e aqui, não fosse uma farmacêutica já com uma certa idade, corria o risco de ter secado o leite. Foi uma mão que me protegeu. Ora, a médica na maternidade disse para eu tomar dois comprimidos (não me recordo o nome) que são usados para secar o leite, neste caso seria para o diluir. Por sorte, não os tinha para me dar e passou a receita. O meu obstetra disse para tomar meio, se achasse mesmo necessário. Fui à farmácia. A farmacêutica não mos quis vender, disse para não arriscar.

E não arrisquei. Com massagens, a situação passou. Fui ter com uma enfermeira do centro pré e pós parto, a Sara, que me fez uma massagem para desbloquear o ducto (ai, a dor!) e passou. Mas houve mais aventuras! O Mr. B chegou a ter de me levar à maternidade às 3 da manhã, pois com o stress não estava a conseguir extrair e tinha as mamas cheias que até doía. A enfermeira da neonatologia olhou para nós com espanto, mas ao que parece, é bastante comum acontecer a mãe não conseguir. Aconselhou oxitocina artificial. Mas nada bate a natural… ali, a olhar para o Baby S já no berçário (por sorte ficou pouco tempo na incubadora e no berçário somos incentivados a mudar a fralda, dar banho, etc), extraí bastante leite, já para a próxima refeição. A rotina era: de manhã ir para o hospital, almoçar por lá, ficar com o bebé, tratar dele, fazer muito pele a pele, regressar a casa à hora do jantar, continuar a extracção durante a noite, guardar em frascos de vidro, levar no dia seguinte. Foi assim durante 10 dias. E eis que o Baby S, que estava internado apenas porque não tinha autonomia alimentar, tem alta. Que alegria.